Tenho uma teoria que penso ser academicamente sustentável. Para entender aprofundadamente o país, nas variáveis sociocultural, mental, territorial... nada melhor do que entender o nosso panorama futebolístico. Este tem, de facto, um verdadeiro sentido interpretativo espelhar. Está lá tudo: o atraso, o provincianismo, as desigualdades geográfica e económica regionais, as iliteracias, a irreflexão, a ausência de uma visão para o futuro, a crítica desconstrutiva e inócua (um exemplo: criticamos a estrutura da Liga dos Campeões quando fazemos pior na Liga Portuguesa), a cobardia, o respeitinho salazarento, a prepotência (também de outro tempo), a comunicação social, a instrução, o conservadorismo anacrónico, a civilidade.
A fotografia que acompanha este post é do vice-presidente do Rio Ave, um clube que joga no principal campeonato português, com orçamentos, presumo, de milhões de euros. O clube, aparentemente, não terá qualquer cláusula, nas suas leis internas, que proíba manifestações de apoio públicas dos seus dirigentes a outro clube.
O mais interessante é que isto é o normal em Portugal. Digam-me em que país da Europa é que coisas destas se passam? Como se sentirá um sócio do Rio Ave - um sócio a sério, ou melhor, um sócio normal - ao ver o vice-presidente do seu clube, em dia de jogo a apoiar o clube adversário?
O futebol, estou propenso a crer, é o melhor explicador do Portugal contemporâneo.
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