No decurso do após a Segunda Guerra Mundial, o papel da Europa no mundo, enquanto bloco em construção, sempre foi pautado pela aposta no diálogo e na diplomacia. A União Europeia é, neste pressuposto, o exemplo acabado dessa aposta: um espaço de diálogo entre as nações, uma espécie de nações unidas europeia, alargando o seu campo de ação para a união e o desenvolvimento económicos. A mensagem belicista estava, geralmente, a cargo de outros, bem mais capazes neste campo.
Não é isso que acontece nos nossos dias. De repente, acordamos e vemos a Europa e a União Europeia a cortarem os canais diplomáticos com a Rússia, país com o qual teremos de estar sempre ligados, pois parte dele é também Europa, e os Estados Unidos a apostarem nos caminhos diplomáticos e de diálogo para a resolução de um conflito militar (e não interessa, para aqui, a trumpiana reformulação americana).
Voltemos aos líderes. Como foi possível Zelenski ter conseguido enredar até ao não retorno, os costas, macrons e afins europeus? Como foi possível a União Europeia e a Europa não terem deixado uma porta aberta para o diálogo com a Rússia, mesmo apoiando a Ucrânia, como fizeram os EUA? Como é possível a União Europeia desprezar Órban só por ser uma voz discordante? Como é possível catapultar a Polónia a uma espécie de "vox gravi" da senda russófoba, quando ainda há três anos o mesmo país era criticado pelo pendor autocrático crescente, em não conformidade óbvia com os paradigmas políticos da União Europeia? Como é possível a continuação nesta aposta belicista?
É, na verdade, possível tudo isto porque o encantamento europeu desvaneceu-se. A visão da Europa da cultura, de uma certa centralidade humanista desapareceu, porque quem manda nesta Europa não tem, objetivamente, categoria para o fazer.
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