Vi ontem o programa de comentário político O princípio da incerteza. Um dos temas em debate foi o "Processo Marquês", ou seja, José Sócrates. Pacheco Pereira é, sabemos, um incondicional apoiante da culpabilidade de Sócrates. "A minha convicção é a de que ele é culpado", repete o comentador sem qualquer pudor. Mas ontem Pacheco Pereira começou por uma espécie de defesa do antigo primeiro-ministro: teme que o julgamento não se processe com todos os meios de defesa garantidos, visto que a pressão comunicacional pública tem sido muita. Que bem ficou, a este anti-Sócrates, esta defesa por um julgamento imparcial e, também, a crítica à excessiva exposição mediática dos estados de alma das diversas partes, em que o próprio, incondicionalmente, se inclui. Acabou, assim, a primeira parte da sua exposição, uma espécie de introdução ao programa. E acabou também aqui a decência do programa, em que o jornalista nada fez para alterar o rumo do comentário.
O julgamento de Sócrates está feito: o homem é o diabo, não presta, é mentiroso, o PS sabia desde sempre quem era José Sócrates (começa tudo com as marquises da Covilhã, diz Pacheco), etc., etc., etc.
O candidato à câmara municipal do Porto teve de pedir desculpa porque não queria comparar José Sócrates a Pedro Nuno Santos; a candidata à câmara municipal de Lisboa ficou subliminarmente chocada com essa mesma possibilidade comparativa. Esteve muito mal Alexandra Leitão: envergonha radicalmente o PS (e a si própria).
Fernando Negrão afirmou, há pouco tempo, que José Sócrates foi um bom primeiro-ministro, principalmente no primeiro mandato. Nunca vi ninguém do PS afirmar o mesmo.
O programa de ontem foi indecente. Que saudades de Jorge Coelho.
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